Quando desperto, me encontro preso no interior do nada dentro da nuvem e a única alternativa que me resta é caminhar, pois cair para baixo pelo buraco onde entrei já me parece muito absurdo. Ao longo da minha caminhada sou surpreendido por trovões ensurdecedores e seus raios cegantes, que percebo, depois de me habituar a esses fenômenos, que eles não passam de seres surreais presos numa dança eterna e destrutiva, mas que não deixa de ser bela. As horas viram dias, que viram semanas, que por sua vez já são meses e minha caminhada ininterrupta já gastou todo o meu calçado e a estrada de granizo agora devora a sola de meus pés.
A pés sangrentos chego a uma encruzilhada e fico dividido entre dois caminhos: um é escuro e remete ao infinito do cosmos e dele saem as vozes dos meus demônios da infância que sussurravam atrocidades em meus ouvidos; o outro caminho é uma queda livre que termina num oceano de sangue, habitado por criaturas feitas de ossadas humanas que anseiam pela minha carne.
Frente a minha dúvida a dança perpétua dos seres ruidosos e cegantes recomeça e como que por pura magia eu capturo um raio com as mãos e tomo minha derradeira decisão, rumando para a caverna dos sussurros saudosos e demoníacos, usando minha arma olimpiana como única fonte de luz e proteção. O que será que há no âmbito deste caminho? Acho que cabe a mim, o peregrino dos pés sangrentos, descobrir.