sábado, 9 de março de 2013

Pesadelo 1



Abro meus olhos.
Uma esfera prateada me fita através de um véu turvo.
Percebo então que estou submerso e se  presto mais atenção, percebo que o brilho mórbido que a esfera lança sobre mim é avermelhado. Um vermelho intenso.
Movo meus  braços e sinto que o líquido no qual me encontro submerso é mais denso que a água deveria ser. Então a compreensão me atinge de súbito como um soco. Eu estou mergulhado em sangue. E este sangue não me pertence, não saiu de minhas veias. Eu deveria entrar em pânico agora, mas contra minha vontade eu simplesmente permaneço imóvel.
No desespero de tentar me mover, de repente subo à superfície enquanto contemplo a Lua de Sangue. Como se a Lua fosse o olho solitário de um deus ciclope e perverso a me hipnotizar.
Ao chegar à superfície lanço meus olhos à procura de terra firme, mas tudo que minha visão capta são corpos cadavéricos boiando na substância rubra e viscosa.
Encaro a esfera celeste, e de repente, sinto como se estivesse sendo atraído por ela, por sua vontade sobrenatural. Sinto dedos longos e esqueléticos me puxando pelos pulsos.  No completo silêncio ouço um gotejar, e, ao  olhar para baixo vejo o sangue desconhecido escorrer de meu corpo despido e tingido de vermelho. Não há outro som além deste que se prolonga até que eu seja levado a uma altura onde não ouço mais nada e minha respiração é visível, pois faz tanto frio quanto nos polos do planeta Terra, frio este que invade meu corpo atravessando minhas camadas de carne e músculo para abraçar meus ossos.
À minha frente, a lua gigantesca me contempla intimidadora. Surge então uma presença, uma silhueta que se forma perante a mim. A aparição se parece com uma menina e um anjo, mas o hemisfério oriental de seu corpo é todo queimado e deformado.
A criatura toma meu rosto em suas mãos e me olha dentro dos olhos com seus olhos bancos e sem íris. O monstro crava suas unhas em minha face, e me beija nos lábios. Sem nenhuma chance de resistir de repente sinto um calor infernal, e num estalar de dedos, sou consumido pelas chamas de dentro para fora.